História do Tiro no Brasil

A cidade belga de Antuérpia recebeu em 1920 os VII Jogos Olímpicos, que foram marcados por duas estréias: a do símbolo dos anéis representando os cinco continentes e a de uma delegação brasileira, que voltou para casa com o primeiro ouro do país na bagagem.

Depois de não participar dos Jogos de Atenas, Paris, Saint Louis, Londres e Estocolmo, os brasileiros marcaram presença no evento na Antuérpia – considerada a sétima edição do torneio mesmo com a não-realização do de Berlim, em 1916, em virtude da Primeira Guerra Mundial – com uma delegação composta por 21 atletas, todos homens, que competiam em cinco modalidades.

O grande destaque ficou com o tiro esportivo, que conquistou todas as medalhas da estréia olímpica do Brasil. O primeiro ouro ficou com o tenente Guilherme Paraense, que surpreendeu na pistola de tiro rápido 25 metros. Já o chefe da equipe, Afrânio Antônio Costa, levou a prata na pistola livre.

Paraense e Costa integraram ainda a equipe que levaria o bronze na pistola livre 50 metros por equipes, ao lado de Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade. Depois de terem parte dos alvos e da munição roubada numa escala de trem em Bruxelas, os brasileiros competiram com outra, emprestada pela equipe americana – felizmente, de qualidade bem superior à levada pelos ladrões.

Nas piscinas, a equipe de pólo aquático teve participação curta, mas honrosa. Goleou a França por 5 a 1, mas perdeu para a Suíça por 7 a 3 e foi eliminada logo na segunda partida. Nas raias, o remo chegou às semifinais do quatro com, onde competiu com barco emprestado.

Além disso, Adolpho Wellisch foi à final do salto ornamental em uma categoria que não é mais disputada, a do salto plano – um estilo simples, sem piruetas – e ficou em oitavo lugar.

Já a natação acumulou fiascos. O desconhecimento de técnicas, estilos e da própria piscina olímpica fez com que vários atletas brasileiros desistissem da disputa. Apenas Orlando Amêndola – que também integrava a equipe de pólo aquático – e Angelo Gammaro caíram na água nos 100 metros livre e 200 metros peito, respectivamente, sendo eliminados logo na primeira rodada.

A viagem à Europa foi, por si só, uma verdadeira aventura. A delegação cruzou o Atlântico, de navio, até Bruxelas, com várias escalas européias. Da capital belga, seguiram de trem até a cidade onde eram realizados os Jogos Olímpicos. Só a equipe de tiro desembarcou antes, em Lisboa, e completou o percurso por ferrovia.

Em Antuérpia, a delegação brasileira dividiu o alojamento com a finlandesa, na Escola Normal de Moças, na Avenida Petit Coq.

Entre os finlandeses, aliás, estava o grande destaque geral daqueles Jogos: o corredor Paavo Nurmi, ouro nos 10 mil metros e em duas provas já extintas, as de cross-country individual e por equipes, ambas de 8 mil metros. O fundista que entrou para a história olímpica levou ainda a prata nos 5 mil metros.

No quadro geral de medalhas, o Brasil acabou na 15ª colocação, à frente de países como Austrália, Japão e Espanha. EFE

Fonte: yahoo.com

Guilherme Paraense (Belém, 25 de junho de 1884Rio de Janeiro, 18 de abril de 1968) foi o primeiro esportista brasileiro a conquistar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos.

Militar de formação, com a patente de tenente, Paraense venceu a prova de tiro, Pistola Rápida, e medalha de bronze por equipe na prova de Pistola Livre nas Olimpíadas de Antuérpia em 1920, com uma arma emprestada pelo competidor norte-americano na prova.

O poligono de tiro da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende -RJ, leva seu nome em sua homenagem e onde tabêm é realizado anualmente torneio que leva seu nome, válido para o calendário do Brasileiro de Tiro Esportivo.

Guilherme Paraense competia também pelo seu clube, o Fluminense Football Club [1].

Tiro rápido 25 m masculino
Pos. País Atletas Pontos
Med 1.png Brasil Brasil (BRA) Guilherme Paraense 274
Med 2.png Estados Unidos Estados Unidos (USA) Raymond Bracken 272
Med 3.png Suíça Suíça (SUI) Fritz Zulauf 269

Guilherme

Paraense

O herói esquecido

A aventura do Atirador que ganhou a primeira

medalha de ouro em uma olimpíada para o Brasil.

Por André Luis Ogando Paraense, seu bisneto.

INTRODUÇÃO

Primeiramente, gostaria de dizer que é uma honra ser o bisneto do homem que ganhou a primeira medalha de ouro olímpica para o Brasil. Afinal, foi um grande feito, principalmente pelo fato das condições que os competidores brasileiros tiveram para disputar a Olimpíada de 1920(Antuérpia, Bélgica) terem sido as piores .No dia 03 de agosto de 1920, primeiro dia de competições dos VII Jogos Olímpicos de Antuérpia, na Bélgica, o atirador Guilherme Paraense obteve 274 pontos dos 300 possíveis na prova do Revólver a 30 metros sobre Silhueta Humanóide em Pé, ganhando a primeira medalha de ouro olímpica do Brasil.Aqui você vai saber em detalhes toda essa história, do início ao fim. É muito difícil hoje em dia ter acesso a detalhes, o que prova mais uma vez que o Brasil é um país sem memória.

Antes de iniciar, gostaria ainda de esclarecer alguns fatos. Em Janeiro de 2001, estive no Rio de Janeiro e visitei a casa de minha tia avó, Oysis Paraense, herdeira das medalhas olímpicas(foram duas, uma de ouro e uma de bronze), do revólver e de várias congratulações oferecidas a Guilherme Paraense. Lá, descobri que existem controvérsias na história contada. Vocês lerão, aqui nessa homepage, que Guilherme Paraense competiu nessa Olimpíada com uma arma emprestada pelos americanos, pelo simples fato de a sua ter sido roubada alguns dias antes da competição. Pois bem, minha tia Oysis afirma que isso é um engano, e me colocou um forte argumento: um atirador nunca conseguiria se adaptar em poucos dias a uma arma diferente da qual ele está acostumado a utilizar. Não se ouviu isso da boca do próprio Guilherme, mas o que circula na família é que a arma não foi emprestada, era a arma dele próprio. Eu prefiro acreditar na minha tia, principalmente porque perguntei a alguns atiradores e eles me afirmaram que realmente há diferença entre as armas, mesmo que elas sejam do mesmo modelo. Mas optei por deixar, nessa história que segue, que a arma foi emprestada pelos americanos, pois é assim que consta na minha principal fonte de pesquisa(Revista MAGNUM, ano VII, nº39). Além das medalhas, muitas foram as congratulações a ele oferecidas, principalmente vindas do Estado do Pará(onde ele nasceu), e ainda assim hoje ele está esquecido, tal qual muitos outros grandes heróis. Pode ser que seja lembrado às vezes, mas só em cantos de página, e de quatro em quatro anos.

Há também outra controvérsia. Minha tia Oysis e muitos afirmam que  ele não recebeu as honras devidas em vida(a maioria das congratulações foram póstumas). Já a minha prima Valéria(filha de Oysis) discorda, afirmando que ele foi recebido na volta por Epitácio Pessoa(então presidente) e recebeu várias outras honras. Uma questão de opinião. Ainda nessa visita ao Rio, um outro tio avô cita que ele recebeu uma placa de ouro oferecida por um rei, a qual não tive contato.

Guilherme Paraense nasceu em Belém do Pará (PA) em 25/06/1884 e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 18/04/1968. No Exército brasileiro, Guilherme Paraense chegou à patente de Tenente-Coronel em 1941 e logo após reformou-se. Enquanto Tenente, no final da década de 1910, Guilherme Paraense chegou a ser campeão brasileiro da modalidade de Tiro com Revólver, tendo sido convidado para formar a 1ª equipe brasileira a disputar um grande evento mundial, os VII Jogos Olímpicos, em Antuérpia, na Bélgica, no período de 7 de julho a 12 de setembro de 1920.

Guilherme Paraense em foto de 1940

Para se ter uma idéia do clima esportivo do Brasil dos anos 20, basta afirmar que o nosso esporte não contava com o mesmo prestígio que outros países dedicavam a esta importante prática social e de evolução do ser humano. Num evento que aconteceu no Brasil em 1922, o centenário da independência, não deixa dúvida da falta de organização e até ausência completa de educação esportiva no Brasil daquele tempo. Como se observa, a evolução em mais de 70 anos não foi das melhores…

EQUIPE OLÍMPICA

Até então o Brasil havia apenas participado de torneios sul-americanos de atletismo e futebol, além de algumas raras excursões de clubes à Europa. Em 1920, não existia o COB(Comitê Olímpico Brasileiro), que nasceria em 1935 e nem o Brasil era membro do COI(Comitê Olímpico Internacional), embora o país contasse, no período de 1913 a 1918, com um brasileiro no COI, o Dr. Raul do Rio Branco e, muito provavelmente, era a CBD(Confederação Brasileira de Desportos) que cuidava da parte política e administrativa das provas, devendo ressaltar que nesse particular simplesmente não existem registros oficiais.

No início do ano de 1920 o Brasil foi, pela primeira vez, convidado a participar de uma olimpíada, os VII jogos de Antuérpia, na Bélgica, e esta participação foi uma tarefa árdua do ponto de vista político para que os dirigentes nacionais definissem quais os esportes que deveriam competir, definir as equipes, arrecadar fundos, etc. Até mesmo a discussão pela Imprensa da época foi acirrada…

A organização esteve a cargo da CBD – Confederação Brasileira de Desportos presidida pelo citado Raul do Rio Branco. Em particular, a equipe de tiro, por não ter federação, sofreu maiores dificuldades para se compor e participar da delegação, devendo destacar-se os grandes esforços dos dirigentes Arnaldo Guinle, Ariovisto de Almeida Rego e Vitor Nidosi Chermont, que foram responsáveis pela participação dessa equipe. Finalmente, a delegação brasileira que iria aos VII Jogos Olímpicos de Antuérpia foi definida com a participação de 25 atletas e a chefia do Dr. Roberto Trompowsky Jr. Estas foram as modalidades e o número de atletas: Saltos Ornamentais (1); Tiro ao Alvo (7); Remo (5); Polo Aquático (7) e Natação (5). A equipe brasileira de Tiro ao Alvo era composta por: Dr. Afrânio Antônio da Costa (chefe da equipe e competidor da categoria Pistola, na qual havia se sagrado campeão brasileiro); Tenente Guilherme Paraense (categoria Revólver e também campeão brasileiro);Sebastião Wolf (Fuzil); Dr. Fernando Soledade (Pistola); Tenente Mário Machado Maurity (Pistola); Tenente Demerval Peixoto (Pistola) e Mário Barbosa (Revólver).

Foto da Equipe de Tiro brasileira.

Neste ponto se faz necessário transcrever um primeiro trecho do relatório do Dr. Roberto Trompowsky Jr., chefe da delegação brasileira a esta Olimpíada, o qual demonstrava bem o empenho dos Atiradores brasileiros: “…os membros da equipe de Tiro haviam, mesmo, declarado dias antes que estavam dispostos a ir a Antuérpia, ainda que houvessem de viajar nas carvoeiras do navio.”.

A VIAGEM

Foi em clima de descrédito popular que a delegação brasileira aos VII jogos de Antuérpia embarcou, discretamente, em 1º de julho de 1920 a bordo do navio “Curvelo”, devendo ser notado que a direção do Lloyd Brasileiro, talvez por excesso de escrúpulos, exigiu que todos os seus integrantes assinassem uma declaração aceitando alojamentos de 3ª classe ainda que viajassem com passagens de 1ª classe… Naqueles tempos uma viagem até a distante Antuérpia deveria ser uma tremenda aventura.

Quando de escala na ilha da Madeira, a delegação brasileira realizou seu primeiro treino fora de terras brasileira, num estande emprestado pelo Exército Português. Naquela oportunidade, o comandante do navio informou que o “Curvelo”só chegaria em Antuérpia dia 5 de agosto, após o início das competições de tiro marcadas para 22 de julho. O chefe da delegação brasileira decidiu então que os Atiradores desembarcariam em Lisboa e seguiriam com ele por terra. Foram de trem, tendo solicitado ao Comitê Executivo dos VII Jogos Olímpicos simplesmente o “adiamento das provas de Tiro…”. O restante da delegação brasileira seguiu viagem por via marítima.

“A viagem, que de antemão sabíamos ser penosa, em muito ultrapassou a expectativa e só organizações morais e físicas de grande rigidez poderiam resistir ao abalo sofrido e produzir o resultado obtido. Má organização das linhas férreas, a travessia das fronteiras, já de si difícil, impossível quase, com as armas e munições, tudo consideravelmente se agravou pela falta de dinheiro e pela providência ou notícia a respeito da nossa passagem. A acrescentar, ainda, a alimentação: era péssima e escassa pois, naturalmente, os recursos particulares do Dr. Roberto Trompowsky, o esforçado chefe da delegação, que conosco seguira, deveriam ser economizados, para não passarmos fome na longa travessia.” (extraído do relatório oficial do Chefe da Equipe de Tiro, Dr. Afrânio Antônio Costa).

A INSTALAÇÃO

O embaixador brasileiro em Bruxelas, Barros Moreira, que nem sequer sabia da participação brasileira nos VII Jogos Olímpicos, informou a equipe de tiro da impossibilidade do adiamento solicitado e ainda colaborou com mais um adiantamento pessoal em dinheiro, o qual veio se juntar àquele dos Atiradores, requisitado pelo chefe da delegação e distribuído entre todos. A parte financeira foi a mais delicada, pois ficara acertado desde a partida que as despesas seriam custeadas pelo governo brasileiro, mas nada disso ocorreu e os diplomatas brasileiros não receberam instruções nesse sentido, além do que, estavam atarefados com a visita do rei Alberto da Bélgica ao Brasil. Somente com os jogos iniciados é que chegaram os recursos.

Além disso, os VII Jogos Olímpicos foram precariamente organizados devido à situação da Bélgica, arrasada pela recém-terminada 1ª Guerra Mundial e foi difícil até mesmo localizar a sede do Comitê Executivo dos Jogos, o qual havia se mudado várias vezes de local, apenas graça a intervenção do cônsul-adjunto do Brasil em Antuérpia, Sr. Georlette, chegando-se a sede do mesmo, onde foi recebida vaga informação sobre a competição de Tiro. A colaboração do Sr. Georlette a partir desta etapa foi inestimável para nossa equipe de Tiro. O local escolhido para as provas de Tiro dos VII Jogos Olímpicos havia sido o campo de manobras do exército belga situado em Beverloo. Os Atiradores foram instalados nos alojamentos dos oficiais, em que uma cama de ferro, uma bacia de folha e uma mesa de pinho constituíam toda a mobília.

Guilherme Paraense em foto de 1960

“Na véspera, ao partirmos de Bruxelas, fôramos roubados em alvos e quase toda a munição .38, de forma que eu e o Paraense ficamos reduzidos a 100 balas cada um, para treinar uma semana e atirar nas provas oficiais 75 tiros!… Foi neste estado de corpo e de espírito que nossos atiradores, sem dormir e mal alimentados, mais debilitados ainda pelo frio, chegaram a Beverloo, a 26 de julho, ao meio dia… À noite, procurei aproximar-me dos americanos, cujo conforto era notável e não necessitavam esmolas do seu governo para o seu sustento. Era o único recurso para remediar os desfalques que houvéramos sofridos em alvos e munições. Lane e Bracken, dois famosos campeões, jogavam uma partida de xadrez; fui ‘peruar’ o jogo e as folhas tantas arrisquei uma opinião na partida… acharam boa; daí por diante entraram em franca camaradagem. Ao final da noite já me haviam dado 1.000 cartuchos .38, 1.000 cartuchos .22 e 50 alvos, fabricados especialmente para o concurso…”(extraído do relatório oficial do Chefe da Equipe de Tiro, Dr. Afrânio Antônio Costa). Mais uma vez, o famoso “jeitinho brasileiro”se fizera presente e, como se percebe, fazia então sua estréia em Jogos Olímpicos…

OS TREINOS

As provas de Tiro dos VII Jogos Olímpicos foram feitas em campo aberto, pois os estandes belgas haviam sido destruídos na guerra, sem proteções, trincheiras, bandeiras de delimitação de áreas, obrigando “os atiradores a se revezarem junto aos alvos, expondo a vida a perigo a cada instante e perturbando o companheiro que atirava, na inquietação constante que aquilo lhe causava…”

“Enquanto isso se dava em relação a todos os atiradores, os americanos, na sua previdência típica, possuíam automóveis, motocicletas, barracas, óculos de alcance impermeáveis, estafetas, criados, enfim, tudo que exigia a manutenção e a adaptação de seus sportsmen à Olimpíada”. ( extraído do relatório oficial do Chefe da Equipe de Tiro, Dr. Afrânio Antônio Costa).

“Todas as manhãs passavam os americanos num caminhão-automóvel, contendo provisões, munições em grande quantidade, armas aperfeiçoadas, criados… e cada um de nossos patrícios tomava o revólver, punha ao ombro seu alvo, preparava parcimoniosamente a sua munição e lá se ia pelo areal, para o exercício, para o sacrifício, para o dever… Que lição para o futuro! Quanto remorso para o passado… Durante esse tempo, nenhuma queixa ouvi daquele punhado de patriotas! Nem o contraste oferecido pelos americanos, abundantemente providos de tudo, levou-nos a um queixume sequer!” (extraído do relatório oficial do Chefe da Delegação Brasileira, Dr. Roberto Trompowsky Jr.).

“Não posso deixar de ambicionar com orgulho a admiração causada às demais equipes pela persistência e força de vontade dos atiradores brasileiros, que nem um só dia deixaram de atirar o seu exercício completo, não se afastando do campo, nem mesmo nas tardes de 30 e 31 de julho, em que a chuva era tal que as provas oficiais foram interrompidas” ( extraído do relatório oficial do Chefe da Equipe de Tiro, Dr. Afrânio Antônio Costa).

AS PROVAS

“… o dia 2 de agosto amanheceu belíssimo: o vento acalmara e tudo prognosticava um concurso magnífico… a inferioridade da única arma livre que possuíamos, em relação as aperfeiçoadíssimas dos nossos concorrentes, não nos permitia ter a menor esperança. Destaquei Soledade para atirar em 1º lugar: o seu resultado ruim atestou imediatamente a inferioridade da arma… Nesta ocasião o coronel Snyders, do exército americano e capitão da equipe de pistola livre disse-me: ‘Sr. Costa, esta arma não vale nada, vou arranjar duas para os senhores, feitas especialmente para nós pela fábrica Colt…’ “. (extraído do relatório oficial do Chefe da Equipe de Tiro, Dr. Afrânio Antônio Costa).

Assim, numa demonstração de “fair-play”, talvez impensável nos dias de hoje, os norte-americanos colaboraram com os atiradores brasileiros, seus concorrentes diretos na competição, cedendo-lhes duas armas, sendo importante acrescentar que na história dos Jogos Olímpicos não há nenhuma referência a outro caso de tão marcante cavalheirismo e senso de competição.

Na prova de pistola a 50 metros competiram 94 campeões de 17 nações e o Dr. Afrânio Antônio Costa conquistou a primeira medalha olímpica para o Brasil, de prata, com 489 pontos, batendo o então campeão mundial, o norte-americano Alfred P. Lane e perdendo apenas para o norte-americano Friederick, o qual havia marcado 496 pontos.

Simultaneamente, foi também ganha pelo Brasil a medalha de Bronze por equipe na modalidade Tiro Livre-Pistola ou Revólver, tendo sido esta a primeira vez em que Guilherme Paraense utilizou o revólver .38 emprestado pelos norte-americanos.(vide anotação destacada na introdução). Assim, a data de 2 de agosto deve ficar na História do Brasil como aquela da primeira vitória de expressão internacional de nosso esporte, conseguida por algo hoje francamente marginalizado pelas autoridades nacionais, o Tiro Esportivo.

No dia seguinte, 3 de agosto de 1920, Guilherme Paraense, na prova do Revólver a 30 metros sobre silhueta humanóide em pé, obtém 274 pontos dos 300 pontos possíveis, ganhando a primeira medalha de ouro olímpica do Brasil e batendo o norte-americano Raymond C. Bracken por apenas 2 pontos.

As duas medalhas ganhas por Guilherme Paraense.

A VOLTA

Depois de 17 dias na Europa, a quase totalidade da delegação esportiva nacional retornou ao Brasil, apenas os Drs. Roberto Trompowsky Jr. e J. Ferreira Júnior e o Tenente Guilherme Paraense permanecendo no Velho Mundo por mais 30 dias. O retorno dos atletas brasileiros, ao contrário do embarque, foi triunfal, com grande público lotando o cais do porto do Rio de Janeiro.

Aqui no Brasil, Guilherme Paraense recebeu uma placa de prata da Liga de Defesa Nacional, a homenagem que mais o sensibilizou, numa cerimônia que contou com a presença do então presidente da república Dr. Epitácio Pessoa, tendo ele ainda sido brindado com uma saudação especial do escritor Coelho Neto.

Guilherme Paraense prosseguiu sua carreira vitoriosa no Tiro Esportivo até a década de 1930, tendo ainda se sagrado campeão nos Jogos Atléticos Sul-Americanos de 1922 e vencido o I Campeonato Brasileiro de Tiro de 1927.

Infelizmente, ainda em vida não recebeu todas as homenagens e a glória que seu pioneiro feito merecia, não sendo muito lembrado pela imprensa em geral. Há muito merecia um selo e, finalmente, a ECT o lançou em 28/01/1992. A verdade é que Guilherme Paraense hoje é um herói esquecido. Mas o Brasil infelizmente é assim, um país sem memória. Meu avô Odilon Guilherme Paraense diz que ele era muito humilde, não gostava de contar-lhe a história de como conseguiu aquelas medalhas. Fiquem com o resumo das duas provas em que Guilherme Paraense consegui medalhas, uma de ouro e uma de bronze.

Selo feito em homenagem à memória do Atirador que nos deu a primeira medalha de ouro olímpica Os pontos são os lugares acertados por ele no alvo
TIRO
PISTOLA DE TIRO RÁPIDO
Distância = 30 metros
Data da final = 3 de agosto
Países participantes = 14
Atletas inscritos = 38
Nome País Pontos
1- Guilherme Paraense BRA 274
2- Raymond Bracken USA 272
3- Fritz Zulauf SUI 269
TIRO
PISTOLA LIVRE EQUIPES
Distância = 50 metros
Data da final = 2 de agosto
Países participantes = 12
Equipes inscritas = 12
País Pontos Atletas
1- USA 2.372 Frederick, Lane, Harant, Snook, Kelly.
2- SWE 2.289 Andersson, Reuterskioeld, Gabrielsson, Hultcrantz, Johnsson
3- BRA 2.264 Afrânio da Costa, Guilherme Paraense, Sebastião Wolf, Dario Barbosa, Fernando Soledade

Fontes de pesquisa:

Revista MAGNUM, ano VII, nº39

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